Série Movimentos Messiânicos no Semi-Árido Nordestino
O Movimento de Belo Monte ou de Canudos
Em 25 de novembro de 1896 os telégrafos anunciavam para todo o Brasil eu um grupo de fanáticos religiosos e monarquistas, comandados por um certo Antonio Conselheiro havia desbaratado uma força militar no interior da Bahia. O Brasil que ainda contava com uma república frágil ficou em polvorosa. Era preciso defender o regime. Diversas expedições militares foram enviadas ee sucessivamente derrotadas. Os jornais da época, a Igreja, e as classe dominantes exigiam medidas mais drásticas. Eram apenas fanáticos religiosos? Seria uma tentativa de restauração da monarquia? Por que o exercito brasileiro não conseguia vencer um exercito de jagunços? Quem dava armamento para os rebelados? Indagações, conspirações, tudo isso passava na mente a respeito daquele movimento que seria definitivamente derrotado dez meses depois ficando talvez como o maior massacre da história do Brasil.
A figura de Conselheiro era bem conhecida no semi-arido nordestino bem antes de sua instalação em Canudos.A partir de 1867 ou 1868, quando partiu do Ceará em direção a Bahia, atravessando vários estados, sua fama de Beato e Conselheiro já era divulgada naquela região. Segundo QUEIROZ, “Vivia de esmolas[...} além de pregar e de fazer realizar novenas e procissões, construía capelas, reparava muros de cemitérios. [...] crescia-lhe a fama de maneira desmendida e, a sua chegada em qualquer burgo, movimentava-se toda a redondeza para vê-lo, ouvi-lo, consultá-lo (1977, p.225).
Porém no imaginário nacional sobreviveu o Conselheiro concebido por Euclides Da Cunha na sua obra “Os Sertões”: “gnostico bronco”, “paranóico”, “anacoreta sombrio”, “ monstruoso”, “ errante”, “esquálido”, “insano”, “asceta”, “de aspecto repugnante”, “de uma oratória bárbara e arrepiadora”, “truanesco e pavoroso” e “grande homem pelo avesso”. O Conselheiro que realmente existiu, desejado pela população sertaneja, missionário e aglutinador foi destruído para atender aos desejos da classe dominante.
Poderíamos conhecer mais de Canudos. O exercito brasileiro, vencedor de uma guerra vergonhosa, sem medalhas, monumentos ou heróis, infelizmente destruiu todos os “documentos vivos” com a sua prática de degolas. Segundo Negrão (2005) “ A própria atitude do Exercito Brasileiro, que não contente em destruir Canudos, empenhou-se na destruição de sua memória”. Figura Como Antonio Beatinho se poupado da velha prática de eliminação de prisioneiros, teria feito um grande registro do povo de Belo Monte.
Diversos pesquisadores nas últimas décadas, e entre eles podemos citar José Calasãs, Robert Levine, Ataliba Nogueira, Douglas Teixeira, e Maria Isaura Pereira de Queiroz lançaram luz sobre o movimento de Canudos e seu líder. Sobre o Conselheiro comenta MONTEIRO:
“Tempestades que se Levantam no Coração de Maria por Ocasião do Mistério da Anunciação – esse é o título barroco da coletânea de sermões, em sua versão manuscrita. A primeira coisa a observar é o desmedido cabal que traz às palavras de Euclides.[...]Da leitura dos sermões, o que surge, entretanto, é a figura de um sertanejo letrado, capaz de exprimir-se correta e claramente na defesa de suas concepções políticas e sociais, e de suas crenças religiosas”(1997, p. 65)
Longe de “uma oratória bárbara e arrepiadora” descrita por Cunha, suas pregações ou prédicas eram o ponto de aglutinação da população e, portanto eram consistente. Logo, era a sua mensagem que atraia a multidão e não os milagres, que neste caso parecem nem ter ocorridos. Tanto Monteiro quanto Cunha concorda que os milagres não foram os fatores de formação do movimento. Ora neste caso pode-se deduzir que Antonio Conselheiro teria sido menos místico que o seu contemporâneo de Juazeiro, o Padre Cícero.
Cunha por sua vez, viu a cidade de Canudos como “urbs monstruosa de barro” devido ao aspecto urbano ali identificado. O local que possuia mais de cinco mil casas segundo contagem do exercito e poderia ter chegado a uma população de mais de vinte mil habitantes fora formada em menos de cinco anos. Logo, os “casebres feitos ao acaso” “ feitos de pau-a-pique e dividas em dois ou três compartimentos poderia causar estranheza ao jornalistas do “O Estado de São Paulo”, mas não a população sertaneja, que durante séculos construiu e habitou naquele tipo de habitação, bem típico de um povo exclusivamente rural. A própria desorganização das ruas se não foi proposital, demonstrou grande eficiência durante a guerra servindo de trincheiras e impedindo que o exercito entrasse de ali forma organizada.
A população ali residente, longe de ser um esconderijo de jagunços e fanáticos, era composta por grupos familiares. A típica casa de três cômodos descrita por Cunha corrobora com essa idéia. Segundo Euclides, Queiroz e relatos de época era ver famílias inteiras seguindo para Canudos, deixando grandes áreas totalmente desertas. E que um bom número possuía alguma posse e outros para os padrões sertanejos eram considerados ricos, vendiam tudo ou seguiam com suas posses para seguir Conselheiro( Queiroz, 1977, p.230)
Havia um comércio desenvolvido e próspero entre os habitantes de Canudos e com as cidades vizinhas. Padres disputavam o domínio de Canudos pois os casamentos e batizados ali realizados davam muito lucros fabulosos. Até os políticos vinham ou escreviam ao Conselheiro pedindo apoio nas eleições. Conselheiro por sua vez contava com a simpatia de vários políticos, sendo até mesmo defendido por deputados estaduais em Salvador. O Governador da época Luiz Viana, natural de Casa Nova e portanto um sertanejo nato, era tido como forte aliado do povo de Canudos (Montenegro apud. Queiroz,1977, p. 238-39).
Mas a comunidade foi destruída totalmente em outubro de 1897. Nos anos sessenta a construção de uma barragem tentou apagar o que restava da memória. Mas na memória dos sobreviventes ficou a lembrança dos “tempos áureos do Belo Monte’, tempo de fartura do “tempo de Conselheiro” quando “havia de tudo[...] dava de tudo e até cana-de-açúcar de se descascar com a unha nascia bonitona por estes lados. Legumes em abundancia e chuvas à vontade [...] Esse tempo parece mentira [...] hoje, ...as secas assolando tudo, o terreno de Canudos não dando para nada (TAVARES apud. Queiroz, idem, p.241).
Percebe-se que o principal anseio de Canudos foi a instalação de uma Terra Prometida nos sertões baiano. Local de fartura, com “rios de leite” e “barrancos de cuscuz”. Expressões não literais, mas apenas prefigurando uma “época de ouro” sobre a proteção do Santo Antonio conselheiro, longe das injustiças sociais e desigualdades que ali seriam superadas.
A figura de Conselheiro era bem conhecida no semi-arido nordestino bem antes de sua instalação em Canudos.A partir de 1867 ou 1868, quando partiu do Ceará em direção a Bahia, atravessando vários estados, sua fama de Beato e Conselheiro já era divulgada naquela região. Segundo QUEIROZ, “Vivia de esmolas[...} além de pregar e de fazer realizar novenas e procissões, construía capelas, reparava muros de cemitérios. [...] crescia-lhe a fama de maneira desmendida e, a sua chegada em qualquer burgo, movimentava-se toda a redondeza para vê-lo, ouvi-lo, consultá-lo (1977, p.225).
Porém no imaginário nacional sobreviveu o Conselheiro concebido por Euclides Da Cunha na sua obra “Os Sertões”: “gnostico bronco”, “paranóico”, “anacoreta sombrio”, “ monstruoso”, “ errante”, “esquálido”, “insano”, “asceta”, “de aspecto repugnante”, “de uma oratória bárbara e arrepiadora”, “truanesco e pavoroso” e “grande homem pelo avesso”. O Conselheiro que realmente existiu, desejado pela população sertaneja, missionário e aglutinador foi destruído para atender aos desejos da classe dominante.
Poderíamos conhecer mais de Canudos. O exercito brasileiro, vencedor de uma guerra vergonhosa, sem medalhas, monumentos ou heróis, infelizmente destruiu todos os “documentos vivos” com a sua prática de degolas. Segundo Negrão (2005) “ A própria atitude do Exercito Brasileiro, que não contente em destruir Canudos, empenhou-se na destruição de sua memória”. Figura Como Antonio Beatinho se poupado da velha prática de eliminação de prisioneiros, teria feito um grande registro do povo de Belo Monte.
Diversos pesquisadores nas últimas décadas, e entre eles podemos citar José Calasãs, Robert Levine, Ataliba Nogueira, Douglas Teixeira, e Maria Isaura Pereira de Queiroz lançaram luz sobre o movimento de Canudos e seu líder. Sobre o Conselheiro comenta MONTEIRO:
“Tempestades que se Levantam no Coração de Maria por Ocasião do Mistério da Anunciação – esse é o título barroco da coletânea de sermões, em sua versão manuscrita. A primeira coisa a observar é o desmedido cabal que traz às palavras de Euclides.[...]Da leitura dos sermões, o que surge, entretanto, é a figura de um sertanejo letrado, capaz de exprimir-se correta e claramente na defesa de suas concepções políticas e sociais, e de suas crenças religiosas”(1997, p. 65)
Longe de “uma oratória bárbara e arrepiadora” descrita por Cunha, suas pregações ou prédicas eram o ponto de aglutinação da população e, portanto eram consistente. Logo, era a sua mensagem que atraia a multidão e não os milagres, que neste caso parecem nem ter ocorridos. Tanto Monteiro quanto Cunha concorda que os milagres não foram os fatores de formação do movimento. Ora neste caso pode-se deduzir que Antonio Conselheiro teria sido menos místico que o seu contemporâneo de Juazeiro, o Padre Cícero.
Cunha por sua vez, viu a cidade de Canudos como “urbs monstruosa de barro” devido ao aspecto urbano ali identificado. O local que possuia mais de cinco mil casas segundo contagem do exercito e poderia ter chegado a uma população de mais de vinte mil habitantes fora formada em menos de cinco anos. Logo, os “casebres feitos ao acaso” “ feitos de pau-a-pique e dividas em dois ou três compartimentos poderia causar estranheza ao jornalistas do “O Estado de São Paulo”, mas não a população sertaneja, que durante séculos construiu e habitou naquele tipo de habitação, bem típico de um povo exclusivamente rural. A própria desorganização das ruas se não foi proposital, demonstrou grande eficiência durante a guerra servindo de trincheiras e impedindo que o exercito entrasse de ali forma organizada.
A população ali residente, longe de ser um esconderijo de jagunços e fanáticos, era composta por grupos familiares. A típica casa de três cômodos descrita por Cunha corrobora com essa idéia. Segundo Euclides, Queiroz e relatos de época era ver famílias inteiras seguindo para Canudos, deixando grandes áreas totalmente desertas. E que um bom número possuía alguma posse e outros para os padrões sertanejos eram considerados ricos, vendiam tudo ou seguiam com suas posses para seguir Conselheiro( Queiroz, 1977, p.230)
Havia um comércio desenvolvido e próspero entre os habitantes de Canudos e com as cidades vizinhas. Padres disputavam o domínio de Canudos pois os casamentos e batizados ali realizados davam muito lucros fabulosos. Até os políticos vinham ou escreviam ao Conselheiro pedindo apoio nas eleições. Conselheiro por sua vez contava com a simpatia de vários políticos, sendo até mesmo defendido por deputados estaduais em Salvador. O Governador da época Luiz Viana, natural de Casa Nova e portanto um sertanejo nato, era tido como forte aliado do povo de Canudos (Montenegro apud. Queiroz,1977, p. 238-39).
Mas a comunidade foi destruída totalmente em outubro de 1897. Nos anos sessenta a construção de uma barragem tentou apagar o que restava da memória. Mas na memória dos sobreviventes ficou a lembrança dos “tempos áureos do Belo Monte’, tempo de fartura do “tempo de Conselheiro” quando “havia de tudo[...] dava de tudo e até cana-de-açúcar de se descascar com a unha nascia bonitona por estes lados. Legumes em abundancia e chuvas à vontade [...] Esse tempo parece mentira [...] hoje, ...as secas assolando tudo, o terreno de Canudos não dando para nada (TAVARES apud. Queiroz, idem, p.241).
Percebe-se que o principal anseio de Canudos foi a instalação de uma Terra Prometida nos sertões baiano. Local de fartura, com “rios de leite” e “barrancos de cuscuz”. Expressões não literais, mas apenas prefigurando uma “época de ouro” sobre a proteção do Santo Antonio conselheiro, longe das injustiças sociais e desigualdades que ali seriam superadas.